Auditoria expõe superlotação, leitos improvisados e alto gasto
com pessoal no HEDA em Parnaíba
Relatório
do TCE-PI revela que hospital opera com taxa de ocupação acima do limite,
pacientes em corredores e gestão ineficiente dos recursos humanos.
Uma auditoria do Tribunal de Contas do Estado do
Piauí (TCE-PI) apontou graves falhas na istração do Hospital Estadual
Dirceu Arcoverde (HEDA), em Parnaíba, uma das principais unidades de saúde da
rede estadual. O documento, resultado do processo TC/007686/2024, revelou que o
hospital opera em estado de superlotação, com pacientes internados em
corredores, leitos improvisados no pronto-socorro e gastos excessivos com
pessoal, sem proporcionar retorno em eficiência.
O HEDA é gerido pelo Instituto Saúde e Cidadania
(ISAC) desde 2023, por meio de contrato com a Secretaria de Estado da Saúde do
Piauí (Sesapi), com valor global superior a R$ 224 milhões. O objetivo da
terceirização do serviço era garantir uma gestão eficiente e de qualidade à
população de mais de 650 mil habitantes da região Norte do estado. No entanto,
a auditoria revelou que o hospital enfrenta sérios problemas estruturais e
istrativos.
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Reforma sem cronograma e leitos
insuficientes
Durante a inspeção in loco, realizada entre julho e
agosto de 2024, os auditores constataram que a clínica cirúrgica do hospital
estava em reforma, sem previsão clara de conclusão e sem cronograma oficial.
Para contornar o problema, pacientes foram remanejados para a clínica médica,
que, por sua vez, foi transferida para o anexo do Hospital Nossa Senhora de
Fátima. Essa sobreposição de serviços levou à utilização dos corredores do
pronto-socorro como espaço de internação.
“Os leitos de observação, que deveriam ser usados
para casos emergenciais e estabilização, estavam ocupados por pacientes em
internação prolongada, o que compromete diretamente a capacidade de atendimento
emergencial”, diz o relatório.
A taxa de ocupação da clínica cirúrgica atingiu uma
média de 115,5% no período auditado — um valor muito acima do parâmetro
recomendado pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), que varia entre
80% e 85%. Já o tempo médio de permanência dos pacientes foi de 5,5 dias,
também superior ao ideal de 3 a 4 dias, o que pressiona ainda mais a
rotatividade dos leitos e agrava o quadro de superlotação.
Gasto elevado com pessoal sem eficiência
proporcional
Um dos pontos mais preocupantes destacados no
relatório é o alto custo com recursos humanos. A folha de pagamento do hospital
consome uma parte significativa dos recursos públicos, mas sem refletir em um
aumento proporcional da eficiência na gestão hospitalar. O Núcleo Interno de
Regulação (NIR), por exemplo, conta com equipe multiprofissional 24h por dia,
mas ainda assim não possui processos formalizados e eficazes para controle de
leitos, causando falhas no planejamento e na tomada de decisões estratégicas.
Além disso, os dados sobre internações e altas
hospitalares são coletados manualmente em planilhas, o que compromete a
confiabilidade e a tempestividade das informações usadas na gestão.
Outro lado
A reportagem entrou em contato com a Sesapi,
mas até a publicação desta matéria não obteve retorno. O espaço segue aberto
para posicionamentos.
Recomendações do TCE-PI
Diante das irregularidades, o Tribunal de Contas
recomendou à Secretaria de Saúde e à gestão do HEDA um conjunto de ações para
reverter o quadro crítico da unidade hospitalar. Entre as principais
recomendações estão:
- Revisar
e readequar as metas contratuais, alinhando-as com
os parâmetros da ANS para tempo de permanência e taxa de ocupação;
- Implementar
sistemas de monitoramento em tempo real para
controle de leitos, produtividade e indicadores de qualidade;
- Formalizar
protocolos de regulação interna e gestão de leitos,
com fluxos definidos e uso de ferramentas digitais;
- Reforçar
a atuação da Comissão de Governança Clínica,
com reuniões periódicas entre a SESAPI e a OSS gestora;
- Apresentar
plano de ação para reduzir cirurgias suspensas e internações prolongadas,
com foco na eficiência assistencial;
- Aperfeiçoar
a coleta e consolidação de dados hospitalares,
substituindo planilhas manuais por sistemas integrados.
Edição: Frank Cardoso (Portal Boca do Povo)
Fonte: Portal Clube News